quinta-feira, fevereiro 19, 2009

domingo, fevereiro 15, 2009

Namoro na idade do vovô!


Foi um susto e tanto.
Meus tios nem tanto, mas as tias e, principalmente, minha mãe, tiveram um treco daqueles: meu avô apareceu com uma namorada. Uma namorada. Nova? Nada, ela tem sessenta e um anos:
- Isso é um absurdo papai, o que os outros vão pensar?

- Que sou viúvo e posso namorar como qualquer ser humano. Você não separou e casou de novo?

- Mas eu tenho quarenta e sete anos!

- E eu sessenta e nove. Pouca diferença.

- Ah sim, estou quase com setenta anos também, obrigada! Pense um pouco papai, pensa… E a mamãe o que acharia?

- Acharia um pouco magra para idade dela.

- Papai!

- Desencana minha filha, a gente não começou namorar do nada. Nós começamos a ficar faz mais de um ano, nos conhecemos melhor e…

- “Desencana”? “Ficar”? Um ano? Roberto vem falar com o papai para ele ver juízo disso tudo!

- É… bem… Hum, Seu Luiz, não acha que é meio idoso para sair para balada não?

- Primeiramente a gente não sai para balada. Vamos ao bingo, bailes, viajamos em excursões para terceira idade. Ora bolas gente, eu aposentei! Tenho que aproveitar tudo o que semeei e plantei. Eu e sua mãe criamos vocês todos, já são independentes. Deixe-me curtir a vida.

- Eu sabia que aqueles bailes eram uma fria, eu disse para não deixar o papai ir. Isso é culpa sua Beatriz!

- Minha? Você que não vem visitar mais o papai.

- Meninas, por favor! Relaxam um pouco.

- Relaxar? Eu preciso de uma bebida…

- Uma pergunta indiscreta Seu Luiz, você e sua namorada já…

- A ciência é uma maravilha, meu genro. O Viagra mudou a minha vida e de muito cabeça branca!

- É mesmo? O negócio funciona então.

- Roberto!

- Vixe, de uma maneira até feroz, viu?

- Papai!

É claro que eu e meus primos ouvimos toda essa baderna. Depois que a poeira abaixou, fui conversar com o meu avô. Para entender melhor essa história de namoro. Após conversar bastante com ele, mudei minha perspectiva sobre a vida.

Uma coisa é que não fazem velhos como antigamente. Quando criança, eu me imaginava como seria ser caduco. Uma coisa do tipo maracujá enrugado de terno xadrez-festa-junina com bengala e chapéu de espantalho. Que nada, os velhos de hoje são bem mais interessantes.

Meu avô fez uma analogia muito interessante com o meu presente e o passado dele. As mulheres de quarenta anos da época dele eram um bando de santas peregrinando nas igrejas. As quarentonas da minha época? Eu mesmo já fiquei com duas e garanto que rezar não é a especialidade delas. Perguntei a ele:

- Vô, os homens com sua idade de hoje aparentavam como?

- Avôs, avôs…

- E as mulheres?

- Bisavós, bisavós…

E ele tem muita razão. Meu avô, por exemplo, ele tinge o cabelo, faz a sobrancelha, malha para perder a barriga, faz dieta, veste como um cara de trinta anos, entre outras coisas. Só não o chamo de metrossexual porque mesmo moderno desse jeito, ele ainda acredita no velho sistema de correção da juventude: a cinta. Ele consegue fazer praticamente tudo o que meu tio de trinta e cinco anos faz, com bem mais disposição. E olha, o tio está sofrendo de uns trecos ruins do coração. O avô, só tem alegria no dele.

Contudo, ao deixar meu avô voltar para o campo de batalha com seus filhos, reclamando “o pior não é ter quase setenta anos com a cabeça de vinte e poucos anos, e sim ter quase cinqüenta com mentalidade de noventa”, comecei a pensar: o que é envelhecer?

Fiquei muito nervoso e apreensivo. Meus tios e pais, com seus quarenta e cinqüenta anos, vendo o que é melhor para um senhor de setenta anos. Será que vou seguir este ciclo? Vou brigar com meus pais por estarem vivendo os anos que restam de paz? Poxa, se o ser humano está vivendo até os oitenta, meu avô ainda tem uns quinze anos pra frente. Ele não pode ficar em casa apenas esperando o dia do juízo final chegar. Então concluí: Não existe idade. A gente é que cria. Se você não acredita na idade, não envelhece até o dia da morte.

Porém meu momento “Márcia Haydée” é quebrado com a minha mãe desmaiando. Meu avô mostrou a tatuagem dele. As duas.

(Guilherme A. B. C. Ishie)