domingo, maio 10, 2009

A arte de ser Avó ?




Netos são como herança.Você os ganha sem merecer. Sem Ter feito nada para isso, de repente caem do céu...
É como dizem os ingleses, um Ato de Deus. Sem se passarem as penas do amor, sem os compromissos do matrimônio, sem as dores da maternidade.
E não se trata de um filho apenas suposto. O neto é realmente, o sangue da seu sangue, filho de filho, mais filho que o filho mesmo.
Cinqüenta anos, cinqüenta e cinco... você sente, obscuramente, nos seus ossos, que o tempo passou mais depressa do que esperava.
Não incomoda envelhecer, é claro.

A velhice tem suas alegrias, as suas compensações: todos dizem isso, embora você, pessoalmente, ainda não as tenha descoberto, mas acredita.
Todavia, também obscuramente, também sentida nos seus ossos, ás vezes lhe dá aquela nostalgia da mocidade.
Não de amores com suas paixões: a doçura da meia idade não lhe exige essa efervescência.
A saudade é de alguma coisa que você tinha e lhe fugiu sutilmente junto com a mocidade. Bracinhos de criança no seu pescoço.
O tumulto da presença infantil ao seu redor. Meu Deus, para onde foram as crianças?
Naqueles adultos cheios de problemas que hoje são seus filhos, que têm sogro e sogra, cônjuge, emprego, apartamento e prestações, você não encontra de modo algum as suas crianças perdidas.
São homens e mulheres ? não são mais aqueles que você recorda. E então, um belo dia, sem que lhe fosse imposta nenhuma das agonias da gestão ou do parto, o doutor lhe coloca nos braços um bebê. Completamente grátis ? nisso é que está a maravilha.
Sem dores, sem choro, aquela criancinha da qual você morria de saudade, símbolo ou penhorada aquela mocidade perdida. Pois aquela criancinha, longe de ser um estranho, é um filho seu que lhe é devolvido. E o espanto é que todos lhe reconhecem o direito de amar com extravagância. Ao contrário, causaria espanto, decepção se você não o acolhesse imediatamente com todo aquele amor recalcado que há anos se acumulava, desdenhado no seu coração. Sim, tenha a certeza de que a vida nos dá netos para nos compensar de todas as perdas trazidas pela velhice.
São amores novos, profundos e felizes, que vêm ocupar aquele lugar vazio, nostálgico deixado pelos arroubos juvenis.
E quando você vai embalar o menino e ele, tonto de sono abre o olho e diz:_Vovó? seu coração estala de felicidade, como pão ao forno?...

Raquel de Queirós

DOS QUINZE AOS SESSENTA




Senti aos quinze anos
Que a dança do amor jamais mudaria de planos
Seria sempre daquela maneira corriqueira
Eu correndo atrás de alguém que não me queria bem

Aos vinte entendi que não era exatamente assim
Alguém poderia também correr atrás de mim
E eu superior na dança do amor
Fingiria não perceber
Até o instante que ele resolvesse me esquecer

Aos vinte e cinco começaram as decepções
Os términos e as desilusões
As lágrimas infinitas
As insônias malditas

Aos trinta fui apresentada a traição
E tive que conviver com essa terrível questão
Nessa mesma ocasião descobri como era ser trocada
Esquecida e ignorada

Aos trinta e cinco
Procurei com afinco.....um novo amor
E que dor.......foi tão difícil de achar
Encontrei almas encantadoras
E também destruidoras
Almas gêmeas e impostoras
Mas ninguém ficou comigo
Terminei no ostracismo

Agora aos quarenta
A gente inventa.....
Inventa que é feliz
Que tem o amor que sempre quis
Inventa que se alimenta de paixão
Que o coração ainda palpita de emoção

E talvez aos cinquenta eu descubra
Que aos quinze fui feliz

Que aos vinte
Eu tive o que eu quis

Que aos vinte e cinco
As noites mal dormidas
Poderiam ter sido resolvidas

Que aos trinta
A traição foi o melhor ingrediente da emoção
E que nessa época o gostoso foi dar o perdão

Que aos trinta e cinco
Buscar um amor não causou assim tanta dor
É bem verdade que foi com dificuldade
Mas ainda existia na minha alma
Uma grande carga de força e vitalidade

E que agora aos quarenta
Inventar pode ser gostoso
Sonhar, delicioso
E esperar, prazeroso

...mas enfim quando eu chegar aos cinquenta
Será que vou descobrir finalmente
Que a solidão assolou meu coração?
Que desde os quinze vivi mergulhada na ilusão?
Como serão os meus sessenta então?

Acho que aos sessenta...
Quem sabe uma nova dança a gente inventa...

Dayanna Daize

segunda-feira, maio 04, 2009

Relações Virtuais




Martha Medeiros

Fui absolutamente rendida pelo poder das relações virtuais.
Acredito que é possível conhecer alguém por e-mail, se apaixonar por e-mail, odiar por e-mail, tudo isso sem jamais ter visto a pessoa.
As palavras escritas no computador podem muito.
Mas nem sempre enxergam a verdade.
São sete horas de uma manhã chuvosa.
Você não dormiu bem à noite.
Põe pra tocar um som instrumental que deixa suas emoções à flor da pele.
Vai para o computador e começa a escrever para alguém especial as coisas mais íntimas que lhe passam no coração.
Chora. Escreve.
Olha para a chuva.
Escreve mais um pouco.
Envia.
São onze horas da noite deste mesmo dia.
O destinatário da sua mensagem está dando uma festa.
Todo mundo fala alto, ri muito, rola a maior sonzeira.
Ele pega uma cerveja e dá uma escapada até o computador.
Abre o correio.
Está lá a mensagem.
Um texto longo que ele lê com pressa.
Destaca algumas palavras:
"a saudade é tanta... sozinha demais... dividir o que sinto..."
Papo brabo.
Responderá amanhã.
Deleta.
Alguém pode escrever com raiva, escrever com dor, escrever com ironia, escrever com dificuldade, escrever debochando, escrever apressado, escrever na obrigação, escrever com segundas intenções.
Nada disso chegará no outro lado da tela:
a pressa, a hesitação, a tristeza.
As palavras chegarão desacompanhadas.
Será preciso confiar no talento do remetente em passar emoção junto de cada frase.
Como pouquíssimas pessoas têm esse dom, uma mensagem sensível poderá ser confundida com secura, tudo porque faltou um par de olhos, faltou um tom de voz.
Se você passou a desprezar alguém, pode escrever "não quero mais te ver".
Se você ama muito alguém, mas a falta de sintonia lhe vem machucando, pode escrever "não quero mais te ver".
Uma mesma frase e duas mensagens diferentes.
Palavras são apenas resumos dos nossos sentimentos profundos, sentimentos que para serem explanados precisam mais do que um sujeito, um verbo e um predicado.
Precisam de toque, visão, audição.
Amor virtual é legal, mas o teclado ainda não dá conta de certas sutilezas.