Já se falava de um Messias ressuscitado antes de Jesus ter nascido.
Pelo menos é essa a interpretação que investigadores fazem da inscrição, em
hebraico, numa pedra encontrada no Mar Morto e que data do século I antes de
Cristo.
A inscrição na pedra - adquirida por um colecionador israelita na
Jordânia, há nove anos - sugere que a ressurreição do Messias não é única nem
genuína do cristianismo. De acordo com aquele texto, que investigadores já
decifraram, a ressurreição seria um conceito adotado pelo judaísmo ainda antes
de o ser pelo cristianismo. A premissa de que Jesus era o Messias e ressuscitou
três dias depois de morrer - vencendo a própria morte - serve de base à fé
cristã. Confirmar-se que a ressurreição aconteceu antes de Cristo seria pôr em
questão o dogma católico da ressurreição de Jesus.
O judaísmo sempre
encarou Jesus apenas como um profeta que mudou as crenças tradicionais, mas não
como o Messias ou o filho de Deus. Agora, esta descoberta vem reacender o
debate, enquanto investigadores decifram as 87 linhas do texto em hebraico,
escrito na pedra, e não esculpido, em duas colunas.
Irás
viver
A imprensa israelita chama a pedra de "A Visão de Gabriel", uma
vez que grande parte do texto remete para uma visão do Apocalipse transmitida
pelo anjo Gabriel. Israel Knohl, professor de estudos bíblicos da Universidade
Hebraica de Jerusalém, explicou que se trata de um texto profético escrito no
século I antes de Cristo, e que cita este anjo dizendo a um certo "príncipe dos
príncipes": "Daqui a três dias irás viver. Eu Gabriel, te ordeno".
Na interpretação do Sr. Knohl, o texto trata de uma figura messiânica
que ele acha ser Simão. Acredita também que
os escritores da história seriam os seguidores de Simão. No texto, o Sr. Knohl
aponta que a morte e sofrimento desse Messias seriam necessárias para a
salvação, segundo as linhas 19 a 21 da inscrição: "Em três dias, você saberá
que o mal será derrotado pela justiça", e outras linhas que falam de sangue
e sacrifício como o caminho para a justiça.
Dois investigadores
israelitas, Ada Yardeni e Binyamin Elitzur, publicaram uma análise detalhada do
escrito em 2007, confirmando a data. No entanto, consideraram indecifrável a
palavra que se segue a "daqui a três dias", na 80ª linha. Knohl, por seu turno,
argumenta que a palavra é "Hayeh" ou "viver" no imperativo.
Segundo a interpretação deste docente, a lápide sugere a ideia de que o sangue
do Messias morto e ressuscitado é necessário para atingir a redenção, o que
demonstraria que a premissa terá sido adotada pelo judaísmo antes de o ser pelo
cristianismo, já que o texto foi escrito previamente. Knohl sublinha que esta
interpretação sustenta uma teoria que ele já tinha exposto num livro editado em 2000,
segundo a qual existia um Messias antes de Cristo. Ele diz que um Messias
sofredor é um conceito muito diferente da imagem judia tradicional de um Messias
triunfante, poderoso descendente de David. "O que acontece no Novo Testamento
foi a adoção de Jesus e seus seguidores de uma história anterior sobre um
Messias".
Moshe Bar-Asher é
respeitoso, mas cauteloso quanto à tese de Knohl: "Há um problema, pois em
partes cruciais do texto há palavras faltando. Eu entendo a tendência do Sr.
Knohl a achar aí evidências de um período pré-cristão, mas em dois pontos
cruciais do texto há várias palavras faltando".
Knohl disse que é menos
importante saber se foi ou não Simão o Messias, e mais importante o fato de que
o texto sugere que um salvador que morre e ressuscita após 3 dias já era um
conceito estabelecido na época de Jesus. "A missão de Jesus foi sofrer e ser
morto pelos romanos, para que seu sangue fosse um sinal da redenção que viria.
Isto dá a Última Ceia um significado absolutamente diferente. Ele deu o sangue
não pelos nossos pecados, mas pela redenção do povo de Israel".
A
polêmica revelação do investigador, a partir da sua interpretação dos escritos,
foi revelada numa conferência no Museu de Israel, subordinada à celebração dos
60 anos da descoberta dos "Manuscritos do Mar Morto".
A figura é um mosaico de Mia Tavonatti
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